Olá queridos,
A crônica " Vazando pelo ladrão" , que lemos em sala, é de um famoso cronista piauiense chamado Cineas Santos. Vocês já devem ter ouvido falar nele, ou mesmo visto, já que ele é um dos idealizadores do Salipi e sua presença é certa no evento.
Vou postar a biografia dele e outra crônica bem legal.
CINEAS das Chagas SANTOS nasceu em Campo Formoso, município de Caracol, sertão do Piauí, estado da região Nordeste do Brasil, em 20 de setembro de 1948, filho de Liberato Francisco dos Santos e Porsina Maria das Chagas Santos.[1] Poeta, cronista, intelectual, professor, agente cultural, advogado, editor e livreiro brasileiro. Pertenceu ao Conselho Estadual de Cultura.
Desde 1965 vive em Teresina, capital do Piauí, onde desenvolveu trabalho de agente cultural, atuando em diversas áreas, há décadas exercendo atividades no cenário artístico-cultural local. Em 1976/1977, fundou, junto com o poeta Paulo Machado e outros companheiros de geração, o jornal alternativo “Chapada do Corisco”.
Proprietário da Corisco (livraria e editora), publicou vários autores piauienses. Professor de Português e Literatura de várias gerações de estudantes piauienses. Foi um dos idealizadores e organizador do SaLiPi (Salão do Livro do Piauí), evento que anualmente reúne livreiros, editoras e público leitor em torno a diversas atividades culturais, palestras, debates, oficinas e exposições. Também é proprietário da Oficina da Palavra, espaço cultural teresinense, e coordenador do grupo A Cara Alegre Do Piauí, projeto de interiorização da cultura – música, literatura e artes plásticas.[2]
Cineas Santos é também o autor da letra do Hino oficial de Teresina, em parceria com o músico Erisvaldo Borges, que compôs a melodia.
- ↑ Adrião Neto. Literatura Piauiense Para Estudantes. 10ª edição. Teresina (PI) – “Edições Geração 70”, 2003.
- ↑ Luiz Romero Lima. Literatura Piauiense. 2ª Edição. Gráfica Ibiapina, Teresina, 2000.
VAMOS À CRÔNICA:
Da arte de engabelar os otários
Durante alguns anos, tive um carrinho peba, ronceiro, sestroso que, justo por esses atributos, ganhou a alcunha de “jumentinho”. Vez que outra, em momento de maior necessidade, o ordinário me deixava na mão. Ainda assim, na hora de me desfazer do condenado, senti uma pontinha de tristeza. Como o carrinho era azul, julguei ser o motivo do apego. Não era. Na verdade, o que me ligava ao caranguinho era a placa: LVO – 0564. No desenrolar dessa arenga, vocês entenderão.
Dia de Reis, no Shopping da Cidade, eu participava, com vivo entusiasmo, da festa organizada pelo professor Vagner Ribeiro. De repente, durante a apresentação do Reisado de Mãe Feliciana, um dos mais antigos de Teresina, fui abordado por um cidadão humilde, idade inescrutável, com aquele ar de quem não foi acariciado pela vida. Maneiroso, pediu licença para aproximar-se, elogiou a iniciativa da festança (lembram-se daquela sensação do álcool na pele antes da picada da agulha?) e gaguejou: -Professor, eu gosto muito de reisado; sou do interior e acompanhava essa brincadeira quando era menino… Preparei-me para a facada. – Parei pra apreciar a brincadeira, deixei minha bicicleta ali na porta, com minhas ferramentas na garupa e veja o que sobrou dela! Com ar compungido, exibiu o arco de um cadeado pequeno, o arco sem o cadeado, naturalmente. – Veja o senhor: a gente para pra assistir uma festa de santo e vem um malfazejo e leva o pouco que a gente tem… Agora tô aqui precisando de uma passagem pra voltar pra minha terra… Antes de cair no choro, o que me estragaria a maquilagem, saquei os caraminguás que trazia no bolso e entreguei-lhe. Num átimo, o cidadão soverteu-se na multidão. Com seus botões, deve ter dito: engabelei mais um otário…
O ruim dessa história é saber que está sendo depenado e não conseguir safar-se. Certa feita, em Salvador, resolvi conhecer a tão decantada Lagoa do Abaeté. Bruta decepção! Na verdade, o trem não passa de um barreiro escuro, cercado de areia branca. Nem tive tempo de curtir meu desapontamento. Fui encurralado por um enxame de ciganas, todas devidamente caracterizadas, com aquela prosa preguiçosamente envolvente: “com azeite de dendê, não vai doer nada,meu rei” … Tentei vãmente desvencilhar-me da horda que, como hienas famintas, me cercavam por todos os lados. Uma me falou de “uma loura maldosa que só quer o seu dinheiro”; a outra, de “um sócio que está lhe roubando”, etc. Quando me liberartaram, eu estava literalmente na lona. Retiraram-se cantando uma toada alegre e, naturalmente, comemorando a féria conseguida à custa de mais um otário…
Ao longo da vida tem sido assim: pressinto a facada, mas não consigo evitá-la. Aparvalhado, acovardado, deixo-me explorar sem reação como uma criança indefesa.
Antes que me perguntem onde a placa do carrinho entra nessa história, lembrem-se das letras LVO. Pois é: um amigo gozador decifrou o enigma com a mais absoluta propriedade: “Lá Vai o Otário”. Como diria meu irmão mais lúcido, cada um para o que nasce…
Disponível em: http://oficinadapalavra-pi.com.br/?p=640
E então, vocês já passaram por uma situação assim? Já foram engabelados? Comentem!
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